quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A luta continua - Suplicando vida




Hoje ao entrar na sala de casa, deparo-me com a vizinha que mora em frente , uma das pessoas mais presentes em minha família, tanto que pra mim ela faz parte dela.
Ela conversava com a minha mãe sobre algo que já acostumava a ouvir nas conversas cotidianas, e sempre paro para escutá-la. Quase todas as conversas envolvidas sobre seu trabalho no hospital, ela uma técnica em enfermagem, dedicando sua vida para salvar outras vida, (quase nem sempre possível), vendo aquela pessoa contar o que ela presenciou mais uma vez...

- Você sabe o que é não poder fazer nada por alguém ? Que pede desesperadamente para que salve a vida dessa pessoa? Sentir-se inválida,incapaz, de não fazer nada pra salvar aquele paciente em estado terminal ? É a pior coisa que alguém pode sentir, não conseguir ajudar, não salvar aquela vida,é o fim.

Ela contava  o que havia acontecido na noite passada com ela e mais uma equipe de médicos, enfermeiros e técnicos, em um hospital que tratava principalmente de pessoas com câncer.Contava a estória de um senhor que possuía Leucemia, e estava em estado terminal,aquela pessoa que antes havia esperança de uma vida melhor com os tratamentos, que  mesmo sabendo que possuía leucemia, não tirava seu sorriso no rosto ( ele não se deixava se levar pela doença), pois ainda acreditava na cura, ele tinha fé. Mas ontem a dor e o medo tomou conta daquela pessoa, já não tinha fôlego, o ar faltava , tudo a sua volta escurecia, os batimentos cada vez mais fracos, tudo isso acontecendo, ele pedindo desesperadamente para que ela a salvasse, que ela trouxesse a cura pra dor, que trouxesse a luz para que ele enxergasse todos de volta, e que seu coração pulsasse mais forte, segurando a mão dela com toda força fraca que ainda ele ainda tinha, desesperada sem saber mais o que fazer e vendo todas aquela equipe entubando o paciente, Ela não aguentou , saiu as pressas fora daquela sala, não aguentava ver aquele paciente sofrendo daquele jeito, suplicando por vida,tudo por um pouco mais de vida, deixou suas mãos, embora é contra as regras deixar um paciente naquele estado emocional e terminal,sabendo que era errado , ela saiu .. ( chorou no banheiro do hospital), aquele paciente que ela cuidava estava morrendo e pedia a ajuda dela, era agoniante não saber o que fazer, querer e não poder.. Depois com calma retornou a sala, o paciente já inconsciente,ela mais calma, queria que algum milagre pudesse salvar a vida dele,só um milagre para salvá-lo. Ela ficou  verificando os sinais vitais fraco daquele senhor, que era tão apegado à ela ... TRÊS horas depois : Ele faleceu, não resistiu. Muitos desses casos acontecem no dia-a-dia dela, de um jeito ou de outro mexe com a gente, acontecimentos como este, marca muito, ela tinha e dito que esse foi um dos casos que mais marcou a vida dela, não só dela, mas por ela ter nos contado sobre o que havia acontecido também marcou a minha vida, saber como pessoas como aquele senhor pedindo socorro, sem nada a fazer, nos faz sentir como ela se sentiu, eu também não resisti (chorei)  e imaginei tudo o que ela tinha sentido e o que tinha presenciado, o aperto de mão fraco daquele senhor sem a intenção de largar a mão dela,e o fim de uma vida . 
Mas a luta dela continua, fazendo o possível e o impossível para salvar vidas ( às vezes nem sempre possível), não só ela mas muito médicos,enfermeiros e técnicos, que com muito sucesso já salvaram muitas vidas e se dedicam cada vez mais para salvas muito mais, as melhores pessoas do mundo .

Um comentário:

  1. Realmente deve ser uma terrível sensação de impotência. Sei que hoje em dia há uma vertente de profissionais da área de saúde dedicados somente aos pacientes terminais, o foco deles não é tanto prolongar a vida do paciente, mas proporcionar que seus últimos dias sejam de qualidade. Pra isso claro que há um forte apoio psicológico, o paciente precisa aceitar que vai morrer, e usufruir desses último dias da melhor forma possível, em geral em casa, ao invés de morrer de uma forma 'tradicional', no hospital, entubado e cheio de equipamentos.

    Ao meu ver essa é uma boa saída para os pacientes terminais, aproveitar os últimos dias com a família, em casa, ou viajando, enfim, sempre que houver essa possibilidade eu acho bem válida.

    bjo

    ResponderExcluir