terça-feira, 1 de abril de 2014

Confissão de um leitor


Ela tinha olhos pequenos mas enxergava com imensidão a tudo, só Deus sabe o porquê de não ter dito a ela, tudo isso ... A voz era tão baixa, tão límpida que podia jurar que fechando os olhos, eu ouvia um anjo a sussurrar, ela tinha cabelos longos e bem escuros, brilhavam, brilhavam ao sol, o vento soprava suas mechas e eu me perdia com tamanho encanto quando ela andava a seu modo, tão lenta, suave, gentil.
 Eu sei que em algum momento, eu deveria ter criado a bendita coragem pra dizer, que eu ainda não vi olhos tão brilhantes quanto os seus, que eu ainda não vi um sorriso tão tímido para um estranho,  ao lado de um amigo seu, que aliás é o meu melhor amigo.
 Eu lembro dela, perfeitamente, do dia em que a vi, naquela confusão de pessoas, andando de lá pra cá, com cartazes, com  os rostos pintados de diversas cores, com opiniões sobre o caos em que a nossa cidade estava ao ver aquele enorme evento. Ela estava ali, com o mesmo propósito que eu, aliás quando a ouvi falando sobre tudo o que sabia e demonstrava ter domínio, eu fiquei calado, abismado. Eu tive quase certeza há minutos atrás, que eu era . Não lembro da última vez que agi com tanta inocência, eu nunca me senti tão indefeso. Dos rostos que encontrei nesta cidade, você foi o resumo de um dia de luta, a luta em que eu fui nocauteado, a luta da qual pensei ter lutado apenas por meu país, por um instante foi tão confuso. Eu queria ter ganhado você, ganhado aquela luta também, queria ter ganhado aquela luta sozinho, sem compartilhar vitória com outros sonhadores manifestantes como eu. Mas você não queria ser a luta e muito menos a vitória de alguém, nenhum coração era seu, será que nem mereceria ser ?
Fui soldado, fui um escravo, fui um mendigo do teu amor. Hoje eu vejo que, eu poderia ter lutado mais, poderia ter feito mil e uma loucuras por você, poderia ter te convencido de que é real, que por mais que seja impossível, eu desejei naquele dia por toda a vida ter você, ter você ... Só que você tão segura e certa do caminho tortuoso que levava, resolveu continuar, amando o desconhecido na escuridão.

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