sábado, 30 de janeiro de 2016

Bebendo tequila, despindo verdades.

Dez e quarenta da manhã, visualizei a última mensagem, fechei os olhos a me questionar: por que alguns shots de tequila fazem isso com a gente? Por que eu não desliguei esse maldito celular? Não posso me orgulhar e nem me envergonhar por ter dito aquilo tudo. Meus três melhores amigos poderiam me apedrejar e com total razão, eu estava a rir de mim mesma, da minha própria fraqueza. E com toda certeza, eles iriam rir  antes de fazerem algum bem a humanidade: manter-me em profundo silêncio outra vez, e pelo meu próprio bem, se é que isso iria resolver alguma coisa numa hora dessas. Um tanto comum, isso já tinha acontecido, outros conhecidos me contaram sobre seus excessos. Isso me alivia. Eu não era a única a ser julgada por tal delito, carregaria outros culpados comigo. Sozinha, eu não iria me agonizar, era uma certeza. Eu abri os olhos para rever as horas, onze e cinco. Eu estava ali, na minha cama a refletir sobre os meus atos insanos da matina. Eu lembro de tudo, e isso era o que eu não queria. Na verdade, não foi insano, não tanto o quanto eu queria que fosse. E foi a primeira vez que eu não cheguei a dizer tudo, forças maiores me impediram, eu não tenho dúvidas disso, nem reclamo. É uma contradição. Tequila não é coisa que se deve beber quando se tem um assunto mal resolvido. Tequila é feita pra liberdade, uma liberdade sem algemas amorosas, coisa que eu não soube interpretar. Eu queria liberdade, bebi tequila, não escondi verdades, desabafei memórias, desejos, vulgaridade. Se faltavam letras naquele texto, sobraram inúmeras palavras por culpa do meu ego.
Tropeçar é cômico, eu tropecei em mim mesma, tão desastrada. Naquela noite, um desastre previsível, você me segurou antes que eu pudesse cair, você tropeçou também mas sem ter bebido nem um gole de tequila. A minha loucura não seria pertinente se não tivesse alguém para provocá-la. E você era bom nisso, ainda é bom nisso. Estrategista e manipulador, uma ruína para mentes frágeis. Eu fiquei a refletir sobre isso. Será que eu estava sã de minhas faculdades mentais? Eu havia justificado a minha loucura anteriormente, o que de fato ela surge quando as coisas estão muito calmas. Mas era um bom motivo pra eu me sentir louca, eu não sou do tipo que faz jogo, eu sou silenciosa. E uma mente silenciosa em dados momentos é algo assustador. Ela grita. O silêncio gritou.
Não quis me condenar, eu queria liberdade e de alguma forma, eu a tinha agora. Ficar engasgada com palavras é bem pior do que estar engasgado por não mastigar direito. É uma morte lenta caso não tenha alguém pra te salvar no momento. Eu tenho consciência. Mas e o bom senso? Não sei, eu sou impulsiva, nada metódica. E é por isso que nas sextas à noite, eu nunca estou em casa. 
E se a coragem não tivesse invadido, a recíproca não seria verdadeira. Um pingo de coragem a mais, eu não sei em que lugar desta cidade, eu iria estar com você. Graças ao celular descarregado, nenhum pecado maior foi cometido ou foi ter sido deixado de cometer.
Aquela pergunta fica para a próxima vez quando os shots de tequila sejam em um número maior. E se os nossos tropeços estiverem em sincronia na madrugada, repetiremos com sorte a mesma dose, beberemos mais um gole de nós dois.

Fisgagem

Nas noites das terças ou das quintas era sorte ou azar. 
Nós dois. 
Três horas ou quatro,
por que iríamos contar? 
O relógio era o nosso pior inimigo na ida 
o melhor quando apontava o momento da vinda.

O mar, 
a calma,
o silêncio, 
os sorrisos,
as avenidas, 
os becos,
a chuva. 

Seu calor,
meu amor. 
Meu fogo,
seu sufoco

Nossas almas, 
entrelaçadas.
Os arfares,
os sussurros, 
os jeitos,
os nossos momentos.

Um infinito dentro de pouco espaço,
no carro, 
no banheiro,
na cama,
no chão. 
Um rádio ligado, 
os risos, 
os abraços.

Uma hora de birra,
outra hora de amor.
Madrugadas de insonia. 
Manhãs de torpor.
Tarde de ansiedade, 
Noite de insanidade. 
Você é odeon
Eu sou néon.